Editorial
O país das jabuticabas - II
A inflação acumulada entre 1980 e 1995 passou de 20 trilhões por cento
Neste mesmo espaço, na edição de novembro de 2012 (a RP36) falamos sobre a hiperinflação no Brasil, que em 1990 superou 80% ao mês, dez vezes a inflação estimada para 2022, 7% (4,31% em 2019). Entre 1980 e 1995 foram 20.759.903.275.651% de inflação, segundo o Laboratório Brasil, TV Câmara. Uma inflação dessas é como a jabuticaba, algo que só tem no Brasil. Ok, estamos longe da hiperinflação, mas “um incêndio nunca começa grande”, dizem os bombeiros.
Bebendo na fonte do escritor Eduardo Bueno, expomos a seguir um entendimento sobre as raízes do processo inflacionário, inicialmente chamado de inchação, e que tem como autor o espanhol Martín de Azpilcueta (1491 - 1586).
Como ainda não existia a profissão economista, Azpilcueta era um filósofo que trabalhou nas Universidades de Coimbra (Portugal), Salamanca (Espanha) e Toulouse (França). Em 1556 ele lançou Comentario Resolutorio De Cambios (disponível em https://newdirection.online/2018-publications-pdf), obra na qual observa os efeitos que a abundante chegada de metais preciosos, vindos da América para a Espanha, tinham sobre preços de produtos e serviços locais. Em resumo, ele narra: “Onde o dinheiro abunda ele vale menos, o contrário onde ele é escasso, e pouco se desvaloriza”.
Entendida a raiz da inflação, é importante observar que o dinheiro ficou muito acessível mundialmente, e não apenas no Brasil, como um analgésico dos governos contra os efeitos das paralizações devido à pandemia. Minguado os mais agudos efeitos da Covid, a atual abundância de dinheiro tende a ser retraída para reduzir a inflação. Basta olhar para “o lado de cima do equador”, com as estimativas 2022 da inflação perto de 10% no Reino Unido (1,74% em 2019), 7,5% nos EUA (2,3% em 2019). E quando se lá se retrair, os efeitos logo chegarão “no lado de baixo do equador”.
Boas Festas e Feliz 2023!
Sérgio Milatias