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Riscos invisíveis que podem causar recalls
Os perigos dos tratamentos de superfícies de qualidade inferior em fixadores metálicos são inúmeros, e podem resultar em impactos de altos custos
Antônio Carlos O. Sobrinho, Carlos A. Bucci e Rogério P. Silva
Na indústria automobilística, aeronáutica e mecânica em geral, os fixadores metálicos desempenham papel preponderante na integridade e confiabilidade de muitos componentes, conjuntos e, consequentemente, no produto final.
Um aspecto que é crítico mas frequentemente negligenciado se encontra nos tratamentos de superfícies aplicados em parafusos, porcas e similares de fixação. Nesses casos, tratamentos de superfícies têm como finalidade melhorar as propriedades dos fixadores quanto à resistência à corrosão, no atrito, além gerar maior vida útil e desempenho, diminuindo assim intervenções para manutenção.
No entanto, quando os tratamentos de superfícies se encontram em níveis de qualidade inferior seja pela qualidade ou espessura de camada esses podem resultar em riscos ocultos que comprometem significativamente a segurança e a eficácia da fixação.
O primeiro e mais notável risco associado aos tratamentos de superfícies de qualidade inferior é a corrosão prematura. A exposição em ambientes agressivos, como maresia, produtos químicos, umidade, ou até mesmo simplesmente a exposição prolongada ao ar, podem desencadear reações químicas que corroem a superfície dos fixadores.
Por sua vez, a corrosão resultante enfraquece a estrutura das peças, reduzindo sua capacidade de carga, podendo assim gerar falhas prematuras e catastróficas. Além disso, a corrosão também pode provocar a formação de trincas e fendas na superfície dos itens, criando pontos frágeis onde as propagações de rachaduras podem ocorrer de maneira silenciosa, até que o fixador falhe de maneira súbita e imprevisível.
Outro perigo dos tratamentos de superfícies de qualidade inferior é o aumento inadequado do atrito, podendo resultar problemas significativos como tensões excessivas no fixador, dificuldade na montagem ou desmontagem e, não menos preocupante, o risco crítico do auto afrouxamento, com relaxamento da força de aperto.
Camada desigual ou mal aderida à superfície de fixadores, oriunda de tratamento inadequado, pode resultar em problemas durante a instalação ou remoção. Um alto coeficiente de atrito pode resultar na dificuldade em apertar um determinado conjunto adequadamente, ou mesmo danificar a rosca durante o processo de instalação. Por outro lado, um baixo coeficiente de atrito pode fazer com que o parafuso se solte facilmente ao ser submetido a vibrações ou cargas cíclicas, colocando em risco a integridade de conjuntos montados como um todo.
Além disso, tratamentos de superfícies de qualidade inferior também podem afetar negativamente a resistência de fixadores à fadiga. Ciclos repetidos de cargas podem gerar micro trincas na superfície do fixador, que, quando combinadas com outros fatores como corrosão podem acelerar o processo de fadiga e levar à falha por ruptura. A falta de qualidade nesses tratamentos podem ser causas subjacentes dessas micro trincas, resultando em fixadores que aparentemente não suportam o ambiente operacional esperado. Ou seja, resistir às condições às quais foram projetados a serem submetidos durante sua operação normal.
Para garantir a qualidade e confiabilidade de fixadores é imprescindível adotar práticas e padrões de tratamentos de superfícies já testados e, sobretudo, validados no mercado. A utilização de materiais de alta qualidade e tecnologia em tratamento superficial consolidadas são fatores cruciais para garantir que os fixadores atendam às expectativas de desempenho e segurança. Ensaios regulares e inspeções de processos de aplicação de forma cíclica são fundamentais para detectar preventivamente qualquer falha ou deficiência nos tratamentos de superfícies, evitando assim potenciais recalls.
Portanto, tratamentos de superfícies de qualidade inferior podem até serem atraentes por serem baratos. No entanto, essa “economia inconsequente” representa riscos significativos na eficácia dos fixadores, e na segurança pessoal como um todo, resultando em “custos potencialmente altos”, sejam eles por corrosão prema tura, aumento inadequado do atrito e redução da resistência à fadiga, considerados como alguns exemplos dos riscos que podem representar.
Investir em tratamentos de superfícies de qualidade superior e seguir os parâmetros recomendados pelos fabricantes são importantíssimos na garantia de que os fixadores cumpram sua função, com segurança e confiabilidade, pois, ninguém gostaria de ter um veículo carregado com dezenas de toneladas em seu retrovisor com essas dúvidas na cabeça.
ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA SOBRINHO
Especialista em Tratamentos de Superfície (ACTROS Assessoria e Treinamentos)
ENG. CARLOS ALEXANDRE BUCCI
EQF - Qualidade de Fornecedores de Ônibus (Mercedes-Benz do Brasil Ltda.)
ENG. ROGÉRIO DE P. SILVA
R&D product development engineer (Mercedes-Benz do Brasil Ltda.)