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Entrevista
04/05/2017 05h11

Entrevista

 

Luís Artur Nogueira, jornalista, economista e palestrante

Nosso entrevistado torna o tema economia algo muito fácil de entender, herança de seu mestre o jornalista Joelmir Beting

 

Jornalista e economista, aos 39 anos Luís Artur Nogueira (LAN) é uma das mais dinâmicas e reconhecidas figuras da mídia especializada em economia no Brasil. Com MBA em mercado financeiro, LAN atualmente é editor de economia da revista Isto É DINHEIRO e já passou pelas revistas EXAME e INFO, e pelas rádios Trianon e Bandeirantes, onde trabalhou com o saudoso Joelmir Beting. Em 2009, recebeu o título de “Jornalista Econômico do Ano”, oferecido pela Ordem dos Economistas do Brasil, pela cobertura feita na crise internacional. Em 2015, foi laureado com a medalha “Ministro Celso Furtado”, na Câmara Municipal de São Paulo, pelos serviços prestados à sociedade na área de economia. Está na lista dos Jornalistas Mais Admirados do Brasil em 2015 e em 2016 e, pelo segundo ano consecutivo, está entre os 10 maiores jornalistas econômicos pelo Prêmio Comunique-se.

Economia é uma matéria que afugenta os leigos, mas suas falas são uma exceção à regra. Qual é o segredo?

Tive a oportunidade e a sorte de ter convivido com um grande mestre como o Joelmir Beting. Trabalhei com ele por seis anos na rádio Bandeirantes e aprendi que o jornalismo econômico só faz sentido quando o “economês” é traduzido para o grande público. Caso contrário, a comunicação ficará restrita, apenas ao público que entende de economia. Aprendi isso com o Joelmir e, desde então, tenho adotado na minha carreira, falas e textos. Antes das minhas palestras busco informações sobre o perfil do público para uma adequação da linguagem. Fazer o jornalismo econômico sem o economês é uma meta da minha carreira e eu não abro a mão disso.

Acredita que temas como economia e gestão ainda são um mundo distante para as micro e pequenas empresas, que são quase um terço do PIB?

É fácil perceber que muitos dos micro e pequenos empresários têm a veia empreendedora. Eles correm atrás, buscam recursos, abrem a empresa com a perspectiva do sucesso e muitas vezes isso não ocorre por uma série de fatores. É claro que isso pode ocorrer por fatores conjunturais econômicos, a atual crise está aí para explicar. O próprio ambiente econômico – que no Brasil não costuma ajudar nem a conjuntura atual nem a questão de burocracia – parece que é feito para prejudicar o empresário, o empreendedor. Digo que o mais importante em tudo isso é a falta de informação. Muitas empresas quebram por problemas de gestão, por desconhecimento das regras econômicas. Ocorre porque o empresário não procurou fazer um estudo adequado do mercado, portando não identificou o público consumidor. Quando um negócio começa errado, a correção pode ser difícil e a chance de quebrar se torna grande, especialmente no Brasil onde o custo do capital é elevado, dando pouco fôlego para alguém segurar o negócio por um período mínimo de consolidação. Concluindo, infelizmente economia e gestão ainda são assuntos distantes para a maioria das micro e pequenas empresas. Isso ajuda explicar porque grande parte delas acaba quebrando num período tão curto.

O que sobra, ou o que falta, aos nossos empresários em termos de gestão e compreensão das movimentações do cenário econômico?

Sobra disposição, garra, muita vontade de vencer, mas só isso não é suficiente para alcançar o êxito. A ausência de conhecimento técnico bloqueia o surgimento de ideias, como buscar ajuda de especialistas, de algum órgão como o Sebrae, ou seja, alguém que possa efetivamente iluminar os caminhos para que o negócio prospere. O “achismo” é um grande perigo. Pessoas acham que sabem fazer uma empresa dar certo e aí acabam errando muito e aprendendo na prática. Nos EUA, algumas pessoas erraram sequen cialmente, quebram várias vezes até acertarem. Porém, ali existem mais recursos para errar sem desastres, ou o ambiente econômico de lá propicia isso. No Brasil essas chances são menores, em alguns casos não mais que uma. Não se deve empreender sem buscar o conhecimento técnico. Conheço vários casos de pessoas que saíram do emprego, receberam a bolada de rescisão e apostaram tudo num negócio sem estudar, perdendo tudo em seis meses.

Combater a injustiça no mercado de trabalho tem sido o motor da ineficiência? Você acredita que a CLT poderia ter diferentes versões entre a pizzaria do bairro e a montadora global?

Sim, mas isso não pode significar perda de direitos dos trabalhadores. Na minha visão a CLT está ultrapassada, é da época de Getúlio Vargas e precisa ser revista, aliás, esse é o debate da reforma trabalhista no Congresso. Não se deve tirar direitos dos trabalhadores, mas é fundamental adequar a CLT ao século XXI. Penso que a CLT deveria garantir direitos básicos de qualquer trabalhador. Daí por diante é livre negociação. Se uma montadora oferece benefícios como, por exemplo, participação nos lucros, bônus por meritocracia etc., ótimo. A pizzaria do bairro não tem essa condição. Se imputarmos isso empurraremos ela para a informalidade. Acreditar que toda empresa pode dar todos os benefícios do mundo não é verdade. A CLT tem que ser realista e garantir o mínimo de dignidade ao trabalhador. Apenas complementando, uma montadora tem os seus turnos clássicos de 2ª a 6ª feira. Já a pizzaria do bairro – que funciona de 2ª a domingo 4 horas por noite – é caso para se ter na CLT espaço para negociar essa jornada específica. Na pizzaria a jornada diária será menor que na montadora, mas ocorrerá em mais dias da semana. Óbvio que o funcionário da pizzaria não pode trabalhar todos os dias. A CLT tem que prever isso ou permitir que se negocie caso a caso. 

Marketing e propaganda devem ser feitos tanto em momentos de bonança quanto em momentos de crise.

É rotineiro ouvir empresários do setor de fixadores dizendo que adotarão ações de marketing e propaganda quando as coisas melhorarem. Não lhe parece um contra censo?

Sim, é um completo contra censo. Marketing e propaganda devem ser feitos tanto em momentos de bonança quanto em momentos de crise. Se estamos em crise, em algum momento isso irá acabar, com o consumidor voltando às compras. Para que ele tenha a convicção em escolher o seu produto, o marketing e a propaganda não podem estar abandonados. Se durante a crise sua marca desaparecer da cabeça do consumidor, o concorrente irá tomar este o espaço na memória dele. Outro ponto importante é que o mercado publicitário, como os outros negócios, também sofre com a crise e, portanto, ações de marketing e publicidade nesses momentos ficam bem mais baratas. Quem se retrai fecha uma banda do portão ao cliente, abrindo a outra banda aos inimigos, como num filme medieval de ação. Quando eles estiverem lá dentro será tarde demais.

Você sempre demonstra otimismo com o país? Esquecendo ser brasileiro, você abriria uma metalúrgica aqui?

Meu otimismo decorre do potencial do Brasil, como nossa abundância em recursos naturais. Em termos de mão de obra, temos amplo potencial de qualificá-la e, portanto, ganhar produtividade. Para mim isso será o principal motor do crescimento do século XXI. Temos um potencial enorme para ganharmos produtividade, investindo em tecnologia e em qualificação de pessoas. Nosso potencial em infraestrutura é enorme. A má notícia de que não temosinfraestrutura para crescer é, ao mesmo tempo, a boa notícia de que podemos crescer justamente fazendo esta infraestrutura. Temos um volume tão grande de obras para fazer que isso, por si só, pode ser o grande motor da economia brasileira, como aconteceu com a China nos últimos anos, e isso sem falarmos no agronegócio nacional, uma referência global. Ok, aqui a política, a burocracia, o sistema tributário maluco, as leis arcaicas, infelizmente é isso que atrapalha, mas vejo com otimismo. Sobre abrir uma metalúrgica aqui, confesso que eu não tenho condições de responder porque precisaria fazer um estudo de mercado.

Um empresário do nosso setor, de nacionalidade brasileira e asiática, disse que produzir na China seria muito melhor porque isso lhe daria alta competitividadeglobal, inclusive para revender ao Brasil. O que pensa sobre isso?

Ele tem razão, do ponto de vista do ambiente de negócios a China está bem à frente. Lá o empresariado tem infraestrutura e apoio governamental que os brasileiros não têm. Ela tem mão de obra mais barata que a nossa, embora não sei se é mais qualificada, mas em quantidade e em preço sem dúvida ela tem, além de praticar políticas econômicas que favorecem. Mas a China não é uma democracia, e investir lá significa primeiro ter um companheiro estatal e concordar com as regras do jogo de um governo que, insisto, não é uma democracia. Se o empresário está disposto a atuar num mercado assim eu não tenho dúvidas que é mais atraente que o Brasil. Agora, para quem gosta de fazer negócios em ambientes democráticos, lamento mas não dá pra comparar Brasil e China. Nosso país é muito melhor. Não fosse assim, o mundo inteiro só produziria na China, o que não é verdade.

Numa feira na Europa um alemão pediu um orçamento para um fabricante brasileiro de fixadores, que ficou 40% acima das demais cotações. Por quais razões o Brasil não se impõe como potência industrial tal qual como no agronegócio?

Porque falta uma política industrial. Falta a indústria ser prioridade para a política econômica do governo, falta o Brasil ter infraestrutura, ter mão de obra qualificada, falta uma carga tributária menor e um sistema tributário mais simples. São esses fatores que explicam porque produzir no Brasil custa 40% a mais do que nesse exemplo. Se não avançarmos em todos esses pontos, jamais conseguiremos concorrer no mundo. Já o agronegócio consegue porque houve uma importante política agrícola com incentivos, inclusive porque o Brasil tem território e recursos naturais em abundância.

Falta a indústria ser prioridade para a política econômica do governo, falta o Brasil ter infraestrutura, ter mão de obra qualifi cada, falta uma carga tributária menor e um sistema tributário mais simples.

Os produtores rurais, sejam pequenos ou grandes, investem em tecnologia de ponta, então isso dá um diferencial em termos de ganho de produtividade, algo que na indústria pouco se vê. No Brasil não é apreciado a importação de máquinas, quando na verdade o ganho de produtividade aqui passa necessariamente por importar tecnologia. Não tem jeito, nossa indústria de bens de capital não consegue produzir o que precisamos para investir em indústria de ponta. Isso precisa melhorar se queremos um dia concorrer de igual pra igual, seja na Alemanha ou em outro lugar.

Saímos da recessão, então quando as empresas - especialmente as das bases da pirâmide - começarão a sentir isso de verdade?

Aparentemente saímos sim da recessão. Ainda não temos dados oficiais do primeiro trimestre, que deve representar uma leve alta em relação ao quarto trimestre de 2016, mas é tudo muito lento, batemos no fundo do poço e agora já temos um leve crescimento, com o PIB subindo 0,5%, em 2017. Nada brilhante, mas depois de um tombo de 7% convenhamos... Se Donald Trump e Brasília não atrapalharem, as reformas forem realizadas, ainda que não em sua totalidade, podemos ter um crescimento em torno de 3% em 2018. Mas acho que, no segundo semestre deste ano, a base da pirâmide empresarial já vai começar a sentir um pouco mais essa melhoria, insisto se Brasília não atrapalhar e do ponto de vista internacional.

Luís Artur Nogueira
 

 

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