Airi Zanini, novo presidente da Associação Brasileira de Tratamento de Superfície
O CEO da Anion MCdermid no Brasil assume pela quarta vez a condução dos trabalhos e dos interesses de setor fundamental em praticamente todos os campos da produção industrial
É certo que você, leitor, sabe sobre a importância dos parafusos em infinitos campos, mas é muito importante compreender que a resistência e a longevidade da fixação também dependem de combinações entre os revestimentos que as protegem. Os processos que geram tal proteção são conhecidos como galvanoplastia, termo originado pelo nome de seu descobridor, o médico e filósofo Luigi Galvani (1737-1798), cidadão bolonhês do período ainda não unificado da Itália.
Sendo assim, ao se finalizar itens que farão parte de conjuntos, seja um carro ou uma torneira, é necessário revestir, tratando assim as partes superficiais. A predominância desses revestimentos é mais complexa ainda que a fixação convencional entre parafusos e porcas, basta começar a observar os dois grampos que fixam esta revista que você lê, o seu relógio de pulso, celular, óculos, o zíper e os botões metálicos de sua calça jeans, fivela do sapato ou o cinto. Isso vale para o computador onde possa estar lendo este texto, ou onde está sentado, seja em casa, ou na poltrona de um avião. Se estiver numa padaria tomando um café fique atento, pois a moeda que receberá como troco também recebeu tratamento de superfície, e que é o tema que há 45 anos faz parte da vida do nosso entrevistado.
Fale sobre sua trajetória
Sou natural de Bauru, interior de São Paulo e desde 1971 estou na capital onde ingressei no setor de tratamento de superfície, começando a trabalhar na produção. Posteriormente assumi cargo em assistência técnica, onde acompanhava esses mesmos processos que já dominava, fazendo o elo junto aos clientes. Para atender os setores decorativo e técnico, fundei a Anion em 1990. Em 1992 passamos a representar os produtos da Cia inglesa Canning, que em 1998 foi adquirida pelo grupo MacDermid, EUA, mantendo-nos como representante até 2006. Desde então, passamos a fazer parte do grupo sob o nome de Anion MacDermid. Na ABTS ocupo a presidência pela 4ªa vez, três vezes fui vice e estive diversas oportunidades na coordenação do Ebrats (congresso e feira de negócios do setor).
Como podemos dividir e identificar este mercado?
Tratamento de superfície é algo presente em praticamente tudo. Placas de circuito impresso, por exemplo – como essa que você tem seu no seu telefone celular, em computadores ou dentro dos automóveis – são aplicações que não são protetivas nem decorativas. Nesta modalidade ocorre a aplicação de cobre, estanho e metais preciosos, como ouro, para realizar a interligação dos pontos que formam o circuito nas placas.
Já na indústria mobiliária estamos nas bases para pintura e nos móveis cromados, modalidade esta meramente decorativa. Mas são linhas mistas, com peças que recebem tratamento decorativo, protetivo e de abrasão em dobradiças, fechaduras, maçanetas e também parafusos.
Na construção temos as indústrias de metais sanitários também mistos nos tipos de tratamentos em torneiras, maçanetas e fechaduras, dobradiças, suportes, acessórios e muitos outros. Na linha automotiva os revestimentos decorativos podem ser encontrados nos emblemas de marcas fabricantes, normalmente confeccionadas em plásticos (ABS) que recebem níquel cromo. Essas partes não impactam na segurança, diferentemente dos itens com maiores níveis de exigências, os protetivos presentes em pontos de rigorosos níveis de resistência à corrosão. Aqui estamos cercados por normas ambientais, de segurança e de longevidade. Aqui se incluem muitos fixadores, presentes em sistemas de direção, freio, suspensão, transmissão e força. Protetivos e decorativos estão presentes nas “linhas brancas”, nos fabricantes de geladeiras, máquinas de lavar e outros. Um exemplo deles são os fogões, com muitas aplicações niqueladas nas grades que tem função decorativa e de resistência à corrosão devido às altas temperaturas em que são submetidas.
Todas as empresas de fornecimento, fabricação, aplicação além de usuários fazem parte da ABTS?
Não, mas é exatamente nessa frente que esta gestão atuará, num esforço conjunto com o Roberto Dela Manna, presidente do Sindisuper (sindicato do setor) e com Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP). Buscaremos demonstrar às empresas como elas serão beneficiadas através do que temos, sejam elas do setor ou aquelas que apenas compram nossos produtos e/ou serviços, que poderão, entre outras coisas, absorver conhecimentos sobre o que estão comprando e do que eles realmente precisam. Na verdade existem muitos aplicadores, mas as empresas consumidoras estão cada vez mais montando seus processos próprios, abrindo mão dos aplicadores terceirizados. Um exemplo disso são os fabricantes de fechaduras, empresas especializadas nos seus produtos, mas que precisam buscar conhecimento em nossa área, agravado pelo fato de não existir no Brasil cursos que formem esse tipo de profissional. Nossas ações incluíram levar treinamentos e conhecimentos específicos in loco e, para isso, temos que estar focados em caso a caso, pois envolveremos empresas diversas, de um lado uma fabricante de cadeiras, do outro circuitos impressos.
Atualmente temos mais de 120 entre sócios ativos e sócios patrocinadores. Nossa meta para 2016 é alcançarmos mais 30 grandes empresas para se unirem à ABTS. Na verdade, a gestão é de três anos, mas o nosso planejamento é para os próximos seis. Vamos focar fortemente a relação e o apoio às indústrias no Brasil e no continente.
Qual mercado considera mais atraente?
O setor de automóveis é bom, mas não é tão grande no Brasil. A construção civil já significou bastante, bem como o moveleiro. Mas penso que isso hoje está bem distribuído, incluindo eletrodomésticos.
Excluindo EUA e China, O Brasil está entre os 5 maiores no setor automotivo. Isso se estende a outros setores?
Em autos não estamos tão bem assim, porque o nível de tratamento de superfície nos modelos que fabricamos são menores que no exterior. Termos uma vasta produção de carros compactos e populares, diferentemente dos modelos enormes e sofisticados que se fazem na Europa ou EUA, e que tem mais itens tratados. Tudo isso é possível na combinação de alto poder aquisitivo desses países, somado ao baixo custo de produção. Já nos outros setores, eu diria que também não temos uma boa colocação. Um exemplo disso é a Colômbia que, em alguns desses segmentos de metais sanitários tem grande produção devido ao seu mercado interno de 40 milhões de habitantes mas sendo grande exportadora.
Tempos atrás, ao olhar uma loja de motos, o CEO de uma associada ABTS comentou que aquelas peças prontas estavam vindo em massa ao Brasil. Acabou a importação? Como será este novo cenário?
O problema está na capacidade de absorção dessas demandas, pois as cias nacionais estão deterioradas. Além disso, o custo Brasil está se elevando e a infraestrutura continua precária, veja o exemplo da energia elétrica.
Em termos industriais o País está se sucateando em planejamento seja ele em curto, médio e longo prazo.
O Brasil está se acabando ou em fase de acabamento?
Em termos industriais o País está se sucateando em planejamento, seja ele em curto, médio e longo prazo. É uma pena já que estávamos em fase de ascensão dez anos atrás, mas agora estamos regredindo. Teremos que nos redobrar para ajustar isso desde que não demoremos muito porque um estado mais avançado desse sucateamento nos comprometerá ainda mais, implicando em enormes investimentos na recuperação da capacidade produtiva.
Como prospecta nossos próximos anos?
Espero mudanças a partir da troca de governo. Antes disso, não vejo horizonte para melhorias. Estamos a deriva, desgovernados em todos os setores. Falta credibilidade.
Airi Zanini
Associação Brasileira de Tratamento de Superfície (ABTS)