Entrevista
Paulo Solimeo, presidente do SINPA
Sindicato das indústrias de fixadores tem novo presidente após 12 anos
Paulo Solimeo é formado em Ciências Contábeis e Economia. Paulistano, começou a trabalhar aos 14, na Associação Comercial de São Paulo. Após a faculdade, trabalhou na KPMG e em indústrias automotivas como a Ford, Scania e Iveco. Após passar pelos cargos de supervisão de desenvolvimento de concessionárias, gerência de logística e entrar para o corpo diretivo da Iveco, seguiu para o ramo de aquisição e reestruturação de empresas. Trabalhou na área de telecomunicações até receber um convite do Grupo Fontana. Após a Acument ser adquirida pela Fontana, em julho de 2014, Solimeo começou a participar das reuniões do sindicato, até ser nomeado para a presidência a partir de 2015. Nesta entrevista, ele nos contou o que podemos esperar para esta nova gestão. Confira.
RP: Como foi chegar à presidência do SINPA?
Paulo Solimeo: Comecei a comparecer nas reuniões pra começar a conhecer, desde outubro de 2014. Começamos a perceber os problemas que tinham no mercado, a tratativa com os clientes (que é diferente com o que lidamos na Europa). O aço, por exemplo, você possui quantidade de oferta muito menor do que se tem lá fora, onde é possível negociar com vários players. Por isso, comecei a participar de forma ativa para tentar melhorar aos poucos a situação.
É natural que uma nova gestão implique em mudanças. Poderia apontar algumas?
O primeiro passo é intensificar e ampliar a união. O segundo passo é trazer de volta quem saiu. Este é um sindicato patronal, é natural que tenhamos concorrentes. Queremos maior proximidade com outros sindicatos patronais e, através de negociação, chegarmos a uma questão consensual que favorecerá também ao nosso segmento.
Eu diria que pegamos o sindicato em um péssimo momento da economia, principalmente para nós que possuímos boa parte dos clientes fornecedores da indústria automotiva. Temos acordos de redução de jornada em algumas montadoras, outras com funcionários em greve, paralisações já definidas em outras, e tudo isso impacta diretamente. Quanto maior o número de associados, mais representativo você se torna. E precisamos dessa base para começar.
Quais as principais medidas a serem adotadas para atender os interesses dos associados?
Temos ideias e propostas que devem ser aprovadas antes de praticadas. O sindicato tem que agir de forma politica, analisar as questões macroeconômicas, que podemos interferir pouco, mas é alguma coisa, e principalmente as questões microeconômicas, voltadas ao nosso segmento, que é relacionamento com fornecedores, clientes, código de conduta e ética entre associados, prática de concorrência leal. Pretendemos elaborar algumas ações conjuntas, cobrir contas, que se abrange bastante em sindicatos. Com a indústria automotiva, por exemplo, somos muito cobrados.
Iremos também investir em micro ações, para dar resultado em curto prazo. Pensamos em um trabalho mais itinerante, mais visitas às empresas, elaboração de workshops regionais para captação de novos associados, isso já para o 2º semestre desse ano.
São 44 empresas associadas e 450 sindicalizadas e o objetivo é captar mais.
Com quantas empresas associadas e sindicalizadas essa gestão começará? Podemos esperar uma ampliação desse número?
São 44 empresas associadas e 450 sindicalizadas. O objetivo é captar mais, o sindicato se torna forte pelo número de representados que tem. Queremos criar uma massa muscular pra poder pleitear.
Podemos considerar que nessa busca por mais associados irá abranger mais setores, além do automobilístico?
Sim, tudo o que tiver relacionado a produção de fixadores. Temos que fazer um trabalho de inserção, trazê-los para ganharmos força. Temos que crescer a base, abrangendo todos os segmentos. Diria que o setor automotivo, separado do mercado total, é o que tem uma menor representatividade em termos de volume produzido, mas com valor agregado maior, claro. Quero desmitificar que o sindicato representa somente o segmento automotivo. Sou a favor da livre concorrência de mercado, desde que tenham situações econômicas e regras iguais, coisa que ainda não existe. Protecionismo é péssimo.
O que você poderia destacar de grandes feitos pela gestão anterior?
O trabalho realizado foi bem feito durante esses 12 anos. Tinha um enfoque mais politico e macroeconômico, mudaram a base de cálculo do ICMS para empresas de São Paulo, negociações sindicais bem feitas. Acredito que a diferença é que vamos fazer ações específicas e pontuais. Varias ações pequenas com prazos definidos. Acreditamos que dividindo informações e estoque com os associados tenhamos um resultado mais rápido.
Mesmo com essas diferenças é uma gestão de continuidade, pois a diretoria não muda somente a pessoa que está a frente. Cabe a mim acatar as ideias e viabilizá-las junto à diretoria.
Podemos exportar, mas não é um problema só no nosso segmento, é na indústria em geral
Você acha que ainda podemos exportar fixadores?
Sim. Hoje a Acument, por exemplo, exporta para a Argentina e Índia. São números pequenos. Podemos exportar, mas não é um problema só no nosso segmento, é na indústria em geral. O câmbio ajuda, mas não é o principal fator. São as condições desfavoráveis do mercado financeiro.
A grande diferença da China, por exemplo, é que ela começou a ter um volume grande interno 20 anos depois que começou a exportar. Agora eles começaram a exportar menos. O Brasil tem que caminhar muito ainda pra chegar lá.
Muitos dos países do setor industrial de fasteners têm a sua feira, e o Brasil parece que caminha para não tê-la mais. Qual a sua opinião a respeito?
Acho péssimo. Feira gera divulgação do produto e business. Eliminar uma feira dedicada ao segmento que é importante – e já foi mais representativo – é péssimo. Isso reforça que o setor precisa de união. O sindicato serve para brigar pelo segmento. Quando não se tem sindicato, vai se isolando.
Durante o Senafor (seminário anual de forjamento), um palestrante disse que as forjarias brasileiras quebrariam no mercado europeu. Pensas o mesmo sobre o mercado de fixadores?
A questão é que, infelizmente, o parque industrial não possui igualdade de condições e questões tributárias para competir lá fora.
Para finalizar, em 2003 a média do dólar esteve em R$ 3,2. Hoje, pelo IGPM, seria de R$ 6,30. Acredita que o dólar a R$ 3,00 está bom ou uma maior depreciação do real pode salvar a produção nacional?
Adequado não está. Câmbio é um dos fatores. Se você tivesse outras condições, como financiamento para exportação, desoneração para indústria interna, para ser mais competitiva, o câmbio influenciaria muito menos que do influencia hoje. Nas atuais condições, ele ainda é insuficiente.
Paulo Solimeo
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