Demanda & produção de petróleo:
uma necessidade de gestão
Introdução
Atualmente a produção mundial de petróleo tem se estabilizado em 88 milhões de barris por dia e está difícil o incremento deste volume produzido, o que pode caracterizar que estamos vivenciando uma etapa de transição no mundo da energia, especialmente o da disponibilidade do petróleo, ou seja, a humanidade está próximo do pico de produção com o de oferta. Há quem afirme que este pico será alcançado entre 2012 e 2020, época em que as reservas mundiais de petróleo devem ser consumidas em mais de 50%.
Então, é importante reconhecer este fato e se preparar para uma nova etapa de gestão da energia fóssil, seja qual for o planejamento energético, uma vez que a demanda quando superar a oferta teremos, com certeza, alta permanente no preço e a possibilidade de inflação e carência de produtos e serviços.
Praticamente toda atividade humana está ligada ao petróleo, desde os transportes, as indústrias, parte da geração de energia elétrica, até a produção de alimentos.
Nos Estados Unidos são necessárias 10 calorias de combustível para produzir uma caloria de alimento. Os derivados do petróleo permitiram o desenvolvimento de equipamentos cirúrgicos, drogas farmacêuticas, plásticos, aviões, automóveis e a automatização dos plantios. Podese esperar um profundo colapso econômico, o desencadear de guerras pela busca de mais petróleo e a proliferação da fome pelo mundo, pela falta de alimentos, em função do crescimento acelerado da população mundial. Esperase que em 2025 cerca de 8 bilhões de pessoas estejam habitando o planeta, fato que demandará um consumo de energia hoje indisponível.
Há indícios que já estamos na transição entre a oferta e a demanda do petróleo e inúmeros sinais estão sendo dados, pois os preços já estão na faixa de US$ 78,00 / US$ 98,00 o barril.
O mundo está caminhando para uma etapa de planejamento do uso da energia, que necessita envolver um conjunto de ações, a saber:
a) REDUZIR O DESPERDÍCIO - as habituais perdas e desperdícios que flutuam de 10 a 30% deverão ser cortados, com o objetivo de impactar a mente do consumidor, pois se nada for feito, o homem não se utiliza do pensamento lateral e por via de conseqüência, não ativa as alternativas energéticas
ou novas formas de se lidar com estes desafios;
b) REUTILIZAR - recauchutar pneus, reciclar plásticos, reutilizar a água, atuar fortemente em plantio de árvores, são velhas soluções que
necessitarão de uma nova forma de pensar. Os problemas ambientais causados pela energia fóssil são devastadores;
c) RECICLAR - reciclar resíduos domésticos e industriais deverão ser obrigatórios;
d) RECOMPENSAR - toda ação para reduzir, reutilizar e reciclar deverá ser incentivada.
Um dado importante neste contexto está no fato de que a economia americana depende do petróleo importado, cerca de dois terços do mineral utilizado vem de fora de suas fronteiras. Vale o registro de que os Estados Unidos
representam hoje cerca de 30% do consumo mundial de petróleo e que 65% das reservas do mundo estão no Oriente Médio, onde o Iraque é o segundo maior país em reservas de petróleo, com capacidade de processar de 4 a 6 milhões de barris/dia.
Agrega-se uma questão de natureza estratégica: cerca de um terço do petróleo consumido pelo mundo passa pelo Golfo Pérsico, especialmente no estreito de Hormuz, e qualquer obstrução ao fluxo diário de 16,5 milhões de
barris de petróleo que por ali passa, causará imediato reflexo na elevação do preço.
A fase de transição que a humanidade atravessa, há nuances e diferenças que merecem reflexão e análise cuidadosa, sobre os seguintes aspectos e impactos:
a) O impacto sobre o preço do petróleo quando se alcançar patamar superior a US$ 100.00/barril;
b) O impacto sobre as economias americana e chinesa diante deste cenário;
c) O impacto sobre a economia mundial;
d) O impacto sobre o meio ambiente.
Cenários e Tendências
Cenários podem ser desenhados, sobre o que pode acontecer nesta era de transição, levando-se em conta as seguintes questões:
a) Variações no preço do petróleo;
b) Aumento da inflação mundial;
c) Retração nos investimentos;
d) Incremento de inovações tecnológicas;
e) Impacto sobre o custo dos alimentos.
Qualquer que seja o cenário, dois ingredientes são fundamentais para qualquer economia: o preço do petróleo e o repasse do custo para a economia.
O Brasil hoje importa em média 10% de suas necessidades de petróleo e de óleo diesel, e, portanto, é baixo o impacto da elevação do preço do petróleo sobre a economia brasileira e o abastecimento nacional. As dificuldades em manter o preço recairiam apenas sobre o óleo diesel e o gás natural.
Entretanto, se houver sinalização de redução do fluxo de petróleo, o produto poderá alcançar rapidamente um novo patamar. No período seguinte ao da transição, o preço do petróleo se elevaria para valores acima dos US$ 100,00/barril e na continuidade poderia subir ainda mais. Desta maneira, estaríamos diante de um novo cenário, com profundas repercussões mundiais.
Este cenário propicia o desenvolvimento do pré-sal e das formas alternativas de geração de energia e promove um conjunto de ações mobilizadoras para uma política de conservação de energia.
Assim, seria estratégico que o Brasil adotasse uma postura que promovesse imediatamente ações firmes para o incremento da participação na matriz energética brasileira tais como, a energia solar, eólica, das marés e o biogás.
O gás natural deveria desenvolver uma política nacional de uso com prioridades definidas, bem como intensificar o incremento de produção, de parcerias, de gasodutos e do uso do GNL.
O óleo diesel deveria ter um programa específico de diretrizes, PRÓ-DIESEL, para que sejam incentivadas de forma coordenada soluções alternativas de abastecimento nacional, como o biodiesel, a mistura álcool/diesel, o diesel-gás, entre outras soluções.
Este é o ambiente próprio para a consolidação de uma política nacional para o hidrogênio, e o veiculo à eletricidade, como uma solução brasileira. A consolidação do etanol como commodity para o Brasil exportar para o mundo.
*Ronald Carreteiro é engenheiro, ex-diretor de gás natural e alternativos energéticos da Petrobras Distribuidora, é membro do Conselho de Tecnologia da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e Coordenador do Escritório de Inovação da Universidade Católica de Petrópolis.
rpcarr@openlink.com.br
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