Editorial
Só os paranoicos sobrevivem
Neste período histórico, em que ficou ainda mais latente nossa fragilidade e finitude, abordamos aqui lições de “dois paranoicos”.
O primeiro é Filopémenes (252-183 a.C.), general grego presente no livro “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel (1469-1527). Já citado neste espaço (na edição RP35, setembro, 2012) esse personagem é um bom exemplo em gestão para os dias atuais em se tratando de ações preventivas. Mesmo na ausência de guerras ele se mantinha em permanente estado de questionamento e de reação contra imprevistos.
No capítulo “O que compete a um príncipe acerca da milícia (tropa)” o autor descreve que ao excursionar pelos campos com seus pares o general frequentemente os questionava: “Se os inimigos estivessem sobre aquela colina, e nós nos encontrássemos aqui com nossos exércitos, qual de nós teria maior vantagem? Como poderíamos atacá-los mantendo a formação das tropas? Se quiséssemos nos retirar, como deveríamos proceder? Se eles se retirassem, como faríamos para persegui-los?”.
Filopémenes ouvia e discutia a opinião dos seus pares, e jamais encontrou pela frente algum imprevisto para o qual ele não tivesse preparado.
O segundo é Andy Grove (1936-2016), húngaro que vivou nos EUA entre 1956 até seu falecimento em 2016, autor do livro “Só Os Paranoicos Sobrevivem” (1996), obra em que descreve uma fase transformadora em sua vida profissional. Cofundador e CEO da Intel, Grove inseriu este principal mandamento na obra: “Simule sua própria demissão, imaginária, saia e retorne como se fosse o seu próprio substituto, e que você mesmo possa fazer as mudanças necessárias”.
Diferentemente das lições de Filopémenes, que certamente nos ajudará no comportamento preventivo, as lições de Grove podem servir para nos reinventarmos e reagirmos no pós-pandemia.
Sérgio Milatias