Entrevista
Dr. Marek Ł angalis, Editor-Chefe da Fastener Polish Magazine
Além de dirigir a “Magazyn Srubowy”, a Revista do Parafuso” de seu país, nosso colega é proprietário da Olfor – uma distribuidora expert em rebitagem
Na recente cobertura do Taiwan Fastener Show (RP69 – maio 2017) estava na comitiva de imprensa o Dr. Marek Łangalis, que tive a imensa satisfação de conhecer, editor-chefe da mídia Fastener Polish Magazine. A grafia da letra inicial do segundo nome dele (Ł) está correta, ela é originária do idioma polonês e pode ser pronunciada como um “U”.
Falando sobre Śrubowy (parafusos), na verdade somos uma revista dedicada a temas sobre elementos de fixação, que no idioma do Marek se diz “elementó w złącznych”, e é sobre o mercado polaco desses produtos que publicamos a seguir, incluindo um resumo sobre a Fastener Poland 2018, feira realizada entre 16 e 18 de outubro, na Cracóvia, cidade de ninguém mais do que Karol Józef Wojtyła (1920 - 2005), o “Papa João Paulo II”.
Revista do Parafuso: Podemos começar pela FastenerPoland?
Dr. Marek Łangalis: Desde 2017 temos nossa própria feira, a Fastener Poland, realizada na cidade mais bonita da Polónia, a Cracóvia, distante 294 km da capital, Varsóvia. A primeira edição foi um sucesso, com cerca de 100 expositores. Neste ano ela foi ainda melhor, com 190 expositores, 4000 visitantes de 39 países. É importante destacar que 60% dos expositores vieram do exterior, como a Alemanha, China, Índia, Itália, República Tcheca, Taiwan e a Turquia. Nosso país é um caminho perfeito para entrar no mercado da Europa Central. Ouvimos de todos os expositores que eles virão também na edição 2019.
Fale sobre a indústria polonesa.
Atualmente, negócios em fixadores na Polônia vivem um dos crescimentos mais impressionantes da Europa, com resultados expandindo ano a ano. No geral, em 2017,a produção industrial cresceu 7,3%, enquanto 2016 foram 4,2%. A construção foi ainda melhor com 12,1%. Em fevereiro deste ano os EUA apontaram a Polônia como a 3ª melhor opção global para se investir, ficando atrás da Indonésia(2ª) e Filipinas (1ª). Desde 1992 nosso Produto Interno Bruto (PIB) cresce em média 4,1% (4,7% em 2017). Nosso PIB percapita que está em US$ 29 mil, contra apenas US$ 6 mil em 1992. Essa impressionante condição foi alcançada graças ao empreendedorismo do povo desta nação que conta com 38 milhões de habitantes, estando 16,5 milhões trabalhando, num ambiente de 1,5 milhão de empresas ativas, com as pequenas e médias absorvendo 70% dos funcionários. Esse povo gerou, em uma geração,condições que permitem a jovens de outros países, como a Bielorrússia e a Ucrânia, encontrarem oportunidades de trabalho onde a taxa de desemprego está abaixo de 5%. Com uma economia flexível, independente e capaz, tornou o país sólido frente à turbulências externas. Mesmo em meio a crise de 2009, a economia polonesa crescia 2,8%. É importante lembrar que temos nossa própria moeda,o Zloty (PLN), que nos permite operar com uma política monetária independente da União Europeia (UE). Na crise financeira 2008-2010, o Zloty depreciou em até 40%, oque ampliou a rentabilidade de nossas exportações.
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Imagens Fastener Poland 2018; Palestra de Marek Langalis |
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Nosso setor industrial responde por 40% do PIB e 30,5% dos empregos. A região sul é mais industrializada que a norte, com a maior concentração de fábricas na região da Alta Silésia, atrás do distrito de Ruhr, Alemanha, a região mais industrializada de toda Europa. Segundo relatórioda Consultoria Deloitte, a indústria polonesa é a 2ª mais competitiva da Europa, após a Alemanha. Nossa maior vantagem em relação a outros países é o acesso a funcionários talentosos e qualificados. Deve-se acrescentar que, para muitas pessoas jovens e talentosas, o trabalho na indústria é um grande enobrecimento.
Descreva o mercado por setores.
Móveis: Do ponto de vista de fixadores, os compradores mais importantes são a indústria moveleira, automotiva, aeroespacial, eletroeletrônicos e a construção. Somoso 4º maior exportador global de móveis, com mais de € 12 bilhões de receitas, de um total de 22 mil fabricantes locais, em geral pequenas e médias Cias. De toda produção 85% é exportado. Grandes marcas, como a sueca IKEA, abriram fábricas aqui. A indústria da madeira dispõe de boas leis para as florestas, que obriga a plantar uma nova árvore antes de cortar uma antiga, fazendo com que a indústria baseada nesta matéria prima flua dinamicamente. Além das moveleiras terem bom crescimento, isso estende às indústrias de portas de vidro (incluindo janelas de plástico e alumínio) ocupando o topo do ranking da UE, com uma exportação batendo a casa dos € 1,8 bilhão. É importante dizer que as moveleiras têm sua produção disseminada em todas as regiões do país.
Autos: Embora a Polônia não tenha marca própriade autos, como a Skoda (República Tcheca), ela hospeda as montadoras Fiat-Chrysler e Opel, tendo alcançado um total de 515 mil unidades produzidas em 2017, incluindo veículos comerciais (média de 1355 carros p/100 mil habitantes; o Brasil produziu 2,7 milhões em 2017, que dá 1295 p/100 mil hab.). O país abriga fornecedoras Tier-1 e Tier-2, entre elas a Toyota Motor, Valeo, Faurecia, Delphi e Kirchoff, todas no sul do país, da Cracóvia (ao leste) até a Alta Silésia e a Baixa Silésia (ao oeste). Na divisão de veículos comerciais leves, caminhões e ônibus, temos a Volkswagene MAN. Dados impressionante estão na produção de ônibus, com 5300 unidades só em 2017, tornando a Polônia o 3º produtor na UE, atrás da Alemanha (1a.) e Suécia (2a.). Existem outras marcas instaladas aqui, como a Volvo, Neoplan, Scania e a Solaris, esta com uma incrível produção anual em 1,5 mil unidades.
Aeroespacial: Este setor é um dos que mais cresce, operando com mais de 100 fábricas, 23 mil colaboradores, com 90% de atividades no Aviation Valley – o Vale da Aviação situado no sudeste da Polônia, famoso por sua indústria aeroespacial, centros de treinamento de pilotos e P&D. Este setor gira mais de € 2 bilhões/ano, tendo grandes marcas globais em operação, como a Sikorsky, AgustaWestlande a unidade militar da Airbus, com atividades muito conectadasa os setor militar.
Construção: Outra grande compradora de fixadores, a construção vive um grande momento devido aos investimentos recentes em infraestrutura, incluindo novos aeroportos, estádios de futebol e outros. Só em novas estradas,o governo investirá € 40 bilhões até 2023 e € 10bilhões em ferrovias até 2021. Como passageiros crescem mais de 20% ano a ano, o governo quer construir um novo aeroporto central, ao custo de € 10 bilhões, incluindo uma nova estação ferroviária e toda a infraestrutura rodoviária capaz de atender cerca de 100 milhões de passageiros, perto da Varsóvia.
Eletroeletrônico: Por último, mas não menos importante, está o setor de eletros e eletrônicos, com produção superior a € 16 bilhões, um grande cliente de fixadores. Na Polônia existe um enorme parque industrial de linha branca, de marcas como Bosch, Electrolux, LG, Samsung, Siemens, Whirlpool, bem como a Amica e a Zelmer, ambas nacionais. Em eletrônicos temos a Dell, Flextronics, LG e Sharp.
Estimamos existir aqui cerca de 1500 empresas de fixadores, dezenas delas são tradings com seis funcionários cada, no máximo, além de grandes fabricantes que exportam em toda Europa.
Agora um panorama geral sobre os negócios em parafusos e afins.
Desde 2003, o nível de produção local quase triplicou, principalmente em linhas gerais de parafusos, chipboards e itens especiais. Baseado em dados da Statistics Poland (Central de Estatística do Governo), abaixo constam dados, em dólares americanos (US$), sobre a produção local: tabela 1, importação: tabela2, exportação: tabela 3.
Tabela 1: Produção local de fixadores: 2003 e2016 (US$ milhão)
A produção polonesa de fixadores não tem sido suficiente para atender as demandas domésticas, o que feza importação triplicar entre 2003 a 2016 (tabela 2). Como maior nível de importados em 2016, passando de US$728 milhões. Compras externas têm crescimento semelhante à demanda local.
Tabela 2: Importação de fixadores: 2003 e 2016(US$ milhão)
A maioria dos fixadores importados vem da Alemanha: US$ 419 milhões, somados 2015 e 2016 (29,8%); Taiwan, US$ 155 milhões (11,1%); Itália, US$ 136 milhões (9,7%) e a China, US$ 132 milhões (9,4%), que vem crescendo anoa ano. Em 2016 a Turquia ficou no 16º lugar, o que significa o comércio internacional com a Polônia está em umnível baixo, e as empresas turcas não usam adequadamenteo potencial do mercado polonês.
Tabela 3: Exportação de fixadores: 2003 e 2016 (US$ milhão)
Entre os maiores clientes estão Alemanha: US$ 269 milhões somando 2015 e 2016 (37,7%); Reino Unido: US$ 57 milhões (8%); República Tcheca: US$ 40 milhões(5,7%) e França: US$ 38 milhões (5,4%). Finalizando, é importante salientar que ao obter acesso aos distribuidores poloneses, também pode se acessar mercados menores, como a República Checa, Eslováquia, Romênia e a Hungria, que tradicionalmente são originários da Polônia. Nossas empresas já são grandes, sólidas e bem organizadas para importar boas quantidades dos mercados asiáticos e deprodutores especializados na Europa.
Polônia é um centro de distribuição muito importante para a Europa Central e Oriental. Desde 2003, a exportação quadruplicou, atingindo o recorde de US$ 364 milhões em 2016. A Polônia ainda está ganhando mais mercados, sendo que seu maior crescimento ocorreu logo após a introduçãodo antidumping pela Comissão Europeia sobre fixadores chineses. De 2009 a 2011 suas exportações subiram até 73%,o que de certa forma pode confirmar a tese de que muitas empresas na Europa mudaram suas compras para a Polônia.
Obs. Os valores aqui publicados podem conter pequenas diferenças devido à exclusão de frações e as variações cambiais.
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